RIO - Representado por um escritório de advocacia, um grupo de sócios do Jockey Club Brasileiro estará hoje das 17h às 21h no Hotel Pestana, em Copacabana, recolhendo assinaturas para a realização de uma assembleia geral extraordinária. O objetivo é votar o impeachment do presidente do clube, Luís Eduardo da Costa Carvalho, acusado de não dar transparência ao projeto de demolição da Vila Hípica para a construção de um empreendimento imobiliário e alvo de denúncias de irregularidades na contratação de uma empresa para a administração das apostas de corridas. O clube tem 5.500 sócios e, pelo estatuto, bastam 400 assinaturas para a realização da assembleia.
Dizendo-se hostilizado, Carvalho já contratou advogados para processar o bloco de oposicionistas que querem cassar seu mandato:
- Todas as acusações são falsas. Quanto ao projeto, fiz reuniões explicando detalhadamente o que pretendemos - defende-se ele.
Orçado em R$ 650 milhões e desenvolvido por duas grandes construtoras, o projeto do Jockey Club Boulevard provocou uma cisão no quadro social. A proposta prevê a construção de escritórios com vista para a Lagoa no lugar das casas e cocheiras da Vila Hípica. O Hospital Veterinário Octávio Dupont - única emergência da cidade para cirurgias em equinos - também seria demolido. O empreendimento inclui a construção de restaurantes, salão de convenções, 2.500 vagas subterrâneas, uma passarela de pedestres sobre a Avenida Borges de Medeiros e a derrubada do muro da Rua Jardim Botânico, além da modificação no traçado da reta dos mil metros da pista. O acordo consiste numa concessão de 50 anos aos empreendedores, e o Jockey ficaria com 12,5% da renda bruta.
Por trás da polêmica está uma disputa entre sócios turfistas e não turfistas. Os cerca de 850 cavalos que vivem no Jockey, além dos aproximadamente 70 profissionais do turfe e seus parentes que moram na Vila Hípica, seriam transferidos para centros de treinamentos na Região Serrana.
- Como se entrega a uma empresa esta oportunidade, sem abrir concorrência? Em cinco anos o projeto se paga, e nos outros 45 os empreendedores terão lucros bilionários. Os cavalos são a razão básica do clube. É um acordo em detrimento da nossa atividade primordial - protesta o sócio e empresário Antonio Carlos Moreira.
Para alguns criadores de cavalos, a extinção da Vila Hípica e suas cocheiras é vista como uma derrota irreparável para o turfe brasileiro. Na outra ponta da celeuma, os entusiastas do empreendimento defendem a tese de que os cavalos mais competitivos já trocaram o Jockey por centros de treinamentos particulares, na serra, onde obtêm maior rendimento. Neto do fundador do clube, o veterinário Lineu de Paula Machado considera a área obsoleta:
- Os cavalos que treinam na serra vencem sete em cada dez páreos e 90% das provas clássicas. Seria melhor ter feito uma concorrência, lá atrás? Talvez, mas esse projeto já foi divulgado na mídia e nenhuma outra empresa procurou o clube. Temos uma chance de criar receita e não podemos deixar um espaço tão valioso quase vazio, como está hoje.
- A falta de competência administrativa deixou a Vila Hípica como está, mas a solução não é privatizá-la, abrindo mão de patrimônio. Temos as pistas e a tribuna tombadas. Entregar a Vila é como manter um restaurante sem cozinha. Além disso, há animais que vivem ali. O turfe não se resume a animais de ponta - discorda o criador Luiz Fernando Dannemann.
Fonte: O GLOBO
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